Quais são os critérios fundamentalistas que mais importam na hora de tomar uma decisão de qual ação comprar?
Aqui é o Marcello Vieira e é sobre isso que eu quero conversar com você nessa 33ª carta ao investidor.
Uma das coisas mais discutidas é que Warren Buffett utiliza o business mode, também conhecido como vantagem competitiva, para comprar ações para a carteira da Berkshire Hathaway. Ele prefere posições de longo prazo, pois possui muitos bilhões de dólares e faz grandes investimentos, o que torna o ajuste frequente da carteira menos viável.
É super importante que a empresa que ele vai comprar continue indo muito bem por muitos e muitos anos. Ele só a venderá, caso ela perca a sua vantagem competitiva.
Por exemplo, podemos citar a Apple, empresa que fabrica o iPhone, iPad e uma ampla linha de produtos, incluindo computadores. Uma vez que um cliente se torna usuário do iPhone e mergulha no ecossistema da Apple, utilizando seus aplicativos, conta, carteira Apple, cartão registrado, e-mail e armazenamento em nuvem, cria-se uma experiência completa e integrada. Essa fidelidade do cliente é uma evidência da vantagem competitiva da Apple.
A meu ver, a Apple continua sendo a líder de mercado nessa área. No entanto, caso uma empresa surja no futuro produzindo celulares tão bons quanto o iPhone, ou até mesmo superando suas funcionalidades, não será fácil os clientes da Apple migrarem. Isso acontece porque os usuários já estão acostumados e integrados ao ecossistema da Apple, com tudo funcionando perfeitamente e configurado conforme suas preferências. Essa fidelidade cria uma resistência significativa à mudança, e outra empresa precisaria ser claramente superior para conseguir uma migração em massa ao longo do tempo.
De certa forma, a Microsoft, com seu sistema operacional Windows, tem se beneficiado desse fenômeno há muito tempo. Embora o Windows não seja considerado o melhor sistema operacional, foi o primeiro a alcançar uma escala enorme.
Como resultado, muitos desenvolvedores criaram programas e negócios que se integram ao Windows, e as pessoas se acostumaram a utilizá-lo. Embora seja totalmente possível para outras empresas, como o Google ou qualquer outra, criar um sistema operacional superior ao Windows, a mudança se torna muito difícil porque a maioria das pessoas já está muito habituada a esse sistema.
Esse exemplo de vantagem competitiva é de extrema importância ao adquirir uma empresa com uma visão de investimento para os próximos 5, 10, 15, 20 ou 30 anos.
Qual é a dificuldade de outro concorrente de tomar espaço?
Em minha opinião, considero esse fator extremamente positivo e algo que levo em consideração com certeza ao avaliar uma ação.
No entanto, para aqueles que investem com uma visão de curto prazo, possivelmente nos próximos meses, esse elemento pode não ser tão relevante.
O foco no crescimento e nas vendas expressivas de um produto pode não ter tanto impacto nesse cenário mais breve – quando a empresa não enfrenta a ameaça de ser superada por concorrentes. Pelo contrário, frequentemente está em uma fase de expansão, buscando conquistar novos mercados ou até mesmo criando um mercado novo.
Por exemplo, quando uma empresa lança um medicamento inovador para perda de peso, está adentrando um mercado promissor e ganhando clientes que se tornarão fiéis a esse produto. Isso representa uma situação inversa à preocupação de ser derrubada por competidores.
No curto prazo, o que tem maior relevância é a capacidade da empresa de aumentar suas vendas e lucros.
Isso vai ser o driver número 1 das empresas no curto prazo, referente a períodos de alguns meses, como 3, 6, 9, 12 ou 15 meses.
Esse é o fator mais relevante para mim, pois, nem sempre mantenho uma empresa por muitos anos. Minha abordagem envolve fazer uma lista de empresas e utilizar o Auto Trade para operar, comprando aquelas em tendência de alta e tecnicamente fortes. Caso uma ação perca força, ela será automaticamente removida da carteira.
Se porventura alguma empresa que estava indo muito bem começar a perder espaço para outra concorrente, o mercado perceberá naturalmente essa mudança. Consequentemente, a empresa perderá força e será retirada da carteira de investimentos.
Somos capazes de antecipar essas mudanças mesmo sem ter conhecimento prévio sobre elas. Em resumo, o que realmente importa para nós são produtos inovadores, crescimento na conquista de market share e espaço no mercado, que impulsionam o aumento do faturamento, lucro e consolidação da empresa.
No entanto, nossa preocupação deve estar focada nos próximos 3, 6, 9, 12, 15 e 18 meses, ao invés de olhar para os próximos 5 a 10 anos.
É evidente que se uma empresa continuar apresentando um desempenho sólido por muitos e muitos anos, é possível que ela permaneça em nossa carteira por um longo período. Entrando e saindo ocasionalmente, mas com uma presença significativa ao longo do tempo.
Isso é excelente. Porém, a vantagem competitiva, que é uma das coisas mais importantes em termos de análise fundamentalista, não é tão relevante em nosso caso ao utilizar o Auto Trade.
Essa lição nos ensina a sermos cautelosos ao ouvir alguém falar sobre algo, pois, é fundamental compreender o contexto antes de tirar conclusões.
No contexto de Warren Buffett, a vantagem competitiva é absolutamente importante.
Já em nosso contexto com o Auto Trade, sendo uma operação menor, temos a facilidade de comprar e vender com agilidade, o que não é o caso dele.
Ele costuma mencionar que, se tivesse a mesma facilidade que tinha no início de sua carreira, conseguiria uma média de 50% de retorno ao ano, como de fato alcançava no começo.
Isso se deve à possibilidade de investir em empresas menores e outras oportunidades que essa facilidade permitia.
A lição principal desta carta ao investidor é a importância de compreender o contexto ao fazer avaliações e tomar decisões de investimento.
Se você chegou até aqui, muito obrigado por acompanhar a Carta ao Investidor.
Forte abraço,