O cenário macroeconômico continua bearish (pessimista).
Nessa semana saiu o CPI – o principal índice de inflação dos EUA, e a inflação voltou a vir acima da expectativa de mercado.
E o que isso significa?
Temos um cenário onde os bancos centrais vêm aumentando os juros e fazendo quantitative tightening (aperto monetário) devido a alta da inflação.
E a inflação está alta porque com os estímulos durante a pandemia foi impresso muito dinheiro, além do agravo com uma série de problemas geopolíticos incluindo a guerra, que fez o preço das commodities subirem e as tensões envolvendo a China e o início do processo de desglobalização.
Ou seja, os países estão deixando de produzir em um lugar mais barato (China) e estão buscando produzir em países mais próximos e confiáveis. E tudo isso é muito inflacionário.
Há também muitos problemas do ponto de vista do mercado de trabalho.
Nos EUA, muita gente que faz parte da geração chamada de baby boomers se aposentou antecipadamente e, dessa forma, estão faltando trabalhadores para o mercado. Isso faz com que aumente o valor dos salários, o que também é inflacionário.
Claro que esse é um bom fator para quem está trabalhando, mas para a economia como um todo é mais uma questão inflacionária.
E para desaquecer um pouco a economia, os bancos centrais estão aumentando os juros para aumentar o custo do capital.
Dessa forma, acontece um desestímulo na economia.
Por exemplo: Se você quer comprar um carro, comprar uma casa ou ampliar, tudo sai mais caro com o aumento dos juros.
Estamos vendo uma desaceleração na economia que, muito possivelmente, vai se tornar uma recessão.
O FED (banco central americano) e todos os outros bancos centrais do mundo sempre acabam errando na dose.
Eles injetaram muito estímulo na economia provocando um superaquecimento no mercado e inflação. E agora, provavelmente, vão subir os juros e apertar demais, provocando uma recessão.
Não existe milagre na economia. A única forma possível é ir manejando de uma maneira equilibrada.
E por que os mercados estão caindo?
Quanto mais altos estão os juros, isso gera não só um desestímulo na economia, mas afeta as empresas, especialmente as relacionadas à tecnologia, que têm menos lucro, menos margem e isso faz com que as ações caiam.
E o que define o mercado daqui pra frente?
A inflação.
Se a inflação ceder, os bancos centrais não precisam aumentar tanto os juros e podem parar de aumentar e depois começar a diminuir os juros e o quantitative tightening (aperto monetário), aliviando a situação.
Agora, se a inflação persistir alta, os bancos centrais devem continuar a fazer o aperto monetário e, lá na frente, o tombo vai ser grande.
Isso porque pode quebrar algum setor na economia.
Normalmente, quando os bancos centrais usam estratégias agressivas para controlar a inflação aumentando os juros, algum setor na economia quebra.
Em 2008 foi o Subprime com toda a questão imobiliária.
Atualmente, não temos nenhum setor inflado como o Subprime e os imóveis nos EUA em 2008, mas na direção em que o mercado está caminhando, daqui a pouco algum setor quebra.
É apenas questão de tempo.
A não ser que a inflação ceda muito e rápido. Mas não parece que vai ser esse o caso.
O que parece é que a inflação vai aumentar e que vai quebrar alguma coisa.
E somente depois que algum setor quebrar e o cenário se tornar de crise generalizada é que a inflação vai embora. Isso porque muita gente deixa de consumir, perde o emprego e a economia fica muito fraca.
Essa é a situação econômica do mundo hoje, fora todas as tensões geopolíticas.
Não há indícios de que a guerra na Ucrânia vá se resolver tão cedo. Nesse momento, a Ucrânia está contra atacando a Rússia e recuperando território.
Porém, a Rússia tem um exército muito maior e pode virar o jogo no futuro.
Então não dá pra comemorar e dizer que a Ucrânia conseguiu se defender e que está resolvido o problema da guerra.
E tirando a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, também temos uma guerra fria entre os EUA e a China que ainda deve durar bastante tempo e com vários episódios.
Na minha visão, algo que todo trader e investidor precisa ter em mente é que estamos vivendo em um cenário completamente diferente do que vimos nas últimas décadas.
E em um momento como esse conturbado, a qualquer momento pode acontecer algo grave como um ataque nuclear tático da Rússia com o objetivo de causar medo e abrir espaço para negociações ou pode ser que a China venha a invadir Taiwan, enfim…
Muita coisa pode acontecer e no mercado temos sempre que estar preparados para surpresas.
Pode acontecer, por exemplo, um “11 de setembro” do dia pra noite que ninguém espera…
E na situação atual, de certa forma, já se sabe que vão acontecer eventos ruins, e a gente só torce para que as coisas piores não aconteçam, mas sabendo que estão no radar para acontecer.
Temos que nos preparar para um mundo conturbado.
E como esse cenário conturbado reflete nos investimentos e nas estratégias de trading?
Para os próximos anos, há menos indícios de que vamos ter um mercado constantemente em alta como vimos na última década.
Devemos ver muita volatilidade tanto pra cima quanto pra baixo, mas sem o mercado subir muito.
E, nesse cenário, estratégias de longo prazo como buy and hold (comprar e segurar) tendem a não performar bem.
E estratégias de trading (operações curtas) que operam a volatilidade, tendem a ser mais eficazes.
Ou seja, não é o momento para capturar grandes tendências.
Eu espero muita volatilidade e não uma alta consistente, seja em ações ou em cripto.
Nesse sentido, tenho trabalhado bastante no desenvolvimento de estratégias para surfar esse vai e vem do mercado. Eu acredito que esse cenário mais desafiador vai durar muito tempo.
Vamos agora para o gráfico ver como isso tudo está acontecendo na prática:
DXY – O dólar contra uma cesta de moedas está em uma tendência de alta total.
O dólar é o grande porto seguro em meio a crise na economia global.
EURUSD – Vemos aqui o euro despencando em relação ao dólar.
A Europa está em uma situação complicadíssima. Com o corte do gás natural da Rússia, a energia ficou muito mais cara.
E com a falta de energia, a situação das indústrias ficam altamente complicadas.
USDJPY – O dólar contra o yen japonês em plena tendência de alta. Ou seja, o dólar está se valorizando em relação ao yen.
USDBRL – Já o dólar cotado em real vem subindo levemente.
O Brasil tem juros bem altos e também é produtor de commodities, o que deixa a moeda forte e em uma situação mais equilibrada.
Em relação aos pares emergentes, o Brasil está com as contas relativamente em dia. E mesmo dentro de um cenário complicado, eu vejo o Brasil se saindo bem.
Aqui temos o gráfico dos juros nos EUA subindo.
E juros subindo significa títulos de longo prazo caindo.
Normalmente quando você compra um título mais longo e tem mais risco, ele paga mais.
Entretanto, em uma situação de crise, as pessoas só querem o curto prazo, então vemos o cenário invertido, o que é um sinal de recessão.
VIX – O índice do medo não fez nenhum pico. Mesmo com um dia de forte queda na Bolsa no último dia 14/09.
Normalmente só vemos formar o fundo do mercado após uma grande disparada do VIX em uma situação de pânico geral, como vimos em 2008 chegar na faixa de USD 70-80.
E como o VIX não está tão alto, isso me faz pensar que ainda não chegamos em um momento crítico e ainda há mais espaço para o mercado cair.
SPXUSD – Fez uma bela pernada de alta para voltar a cair.
Isso acontece bastante durante o bear market (baixa do mercado) chamado de bull trap, ou seja, uma pernada de alta em um mercado em baixa.
NASDAQ – em uma situação bem semelhante caindo bastante.
IBOV – Índice Bovespa fez uma bela pernada, lateralizou e está se segurando. Acredito que o mais provável é que rompa o gráfico para baixo.
Entretanto, como eu comentei, o Brasil está com uma situação mais equilibrada, o gráfico pode ir pra baixo, mas o Brasil não está em uma posição tão crítica como outros países.
COPPER – Cobre quando há possibilidade de recessão costuma despencar porque tem uma menor demanda.
USOIL – O petróleo também está caindo. Mas, para o médio e longo prazo eu estou bullish (otimista) com petróleo.
Indo agora para o mercado de criptomoedas.
BTCUSD – Bitcoin quase testando o fundo de novo.
Vem segurando por enquanto, mas acredito que quando a situação econômica apertar, então iremos ver o fundo do Bitcoin nesse bear market (baixa do mercado).
Até onde pode chegar o fundo, ninguém sabe. Talvez busque os 13k, pode acontecer…
Contudo, para o médio e longo prazo, continuo bullish (otimista) com o Bitcoin.
ETHUSD – Ethereum está caindo bastante.
Veio a atualização do Merge e ao que tudo indica deu certo, o que é muito bullish (otimista) para o Ethereum.
Mas, geralmente, vale aquela máxima: ”Buy the rumors, Sell the news” Compre os rumores e venda a notícia.
Foi pelo Merge que o Ethereum disparou uma pernada de alta de 86% em menos de 1 mês.
Deu tudo certo com a atualização, então as pessoas realizaram o lucro do que compraram lá atrás.
Eu tenho um pequeno receio de alguma empresa privada como a Meta ou Apple lançarem uma layer 1 (1ª camada) com a tecnologia que eles têm e fazerem algo mais rápido e mais barato.
Esse é um risco que eu vejo para o Ethereum.
Contudo, se isso não ocorrer, acredito que o Ethereum tem tudo para se consolidar como um grande líder de mercado com uma layer 1. Ou seja, uma blockchain de contratos inteligentes onde as pessoas constroem seus aplicativos.
Em resumo, eu estou pessimista com a economia, mas bem otimista com as oportunidades para operar o mercado durante esse cenário complexo que devemos viver daqui pra frente pelos próximos anos.
Dessa forma, se preparar para operar a volatilidade do mercado com múltiplas estratégias é o caminho.
Forte abraço,